Triple Parade Blog Uncategorized Realismo mágico latino-americano. O nome foi dado por Arturo Uslar…

Realismo mágico latino-americano. O nome foi dado por Arturo Uslar…

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Provavelmente a arte não poderia ter sido criada noutro lugar que não aquele onde nasceu. Embora todas as manifestações tenham antecedentes, influências e semelhanças com outras, algumas só puderam ser concebidas e desenvolvidas na América Latina devido ao contexto histórico, social, político, territorial, psíquico e emocional. Pretendemos fazer uma breve revisão de um dos estilos mais notáveis que se desenvolveu na América Latina: O Realismo Mágico.

O nome foi dado por Arturo Uslar Pietri, escritor venezuelano, em 1947, para descrever uma sensibilidade estética e um movimento literário que surgiu nas décadas de 1920 e 1930 entre alguns autores latino-americanos e que misturava realidade e fantasia. Entre as principais características, podemos citar:

  • Há elementos insólitos percebidos pelas personagens como normais, comuns. Personagens que também sofrem certas metamorfoses durante a história.
  • -O clima e as paisagens reforçam as emoções das personagens. Há uma visão subjectiva dos factos, pelo que o texto deve ser lido a partir da intuição e da sensorialidade.
  • -Aparecem referências e acontecimentos ocorridos na América Latina, mas a eles se acrescenta uma certa conotação fantástica e improvável.
  • A história não é linear, pelo que as acções não seguem o curso lógico do tempo: o passado costuma misturar-se com o presente e o futuro. Também se pode verificar que o tempo cronológico pára e a narrativa flui a partir dos pensamentos das personagens. Ou que a obra tem uma narrativa circular, começando pelo fim.

Estas premissas serão também transpostas para o domínio das artes plásticas. Entre os artistas mais reconhecidos, podemos citar Santiago Cárdenas e Fernando Botero, da Colômbia; Tarsila do Amaral, do Brasil; Lino Enea Spilimbergo, Antonio Berni e Pablo Suárez e Héctor Giuffré, da Argentina. Estes, que foram classificados como pintores do discurso mágico-realista, coincidem cronológica e artisticamente com os seus contemporâneos hiper-realistas dos anos 60 nos Estados Unidos em muitas características técnicas: a precisão do traço e do pormenor, as linhas nítidas, as pinceladas lambidas, a sobriedade, até uma certa proximidade com trompe l’oeil. Mas sempre num jogo dialético com o exagero de certos aspectos da realidade e em ligação com a sua imaginação. Para identificar estas chaves visuais, vejamos algumas obras realizadas por os artistas que representamos.

2. Yudy Márquez. O imigrante.

Podemos observar nas obras de Yudy Márquez uma narrativa que remete para a realidade mas misturada com elementos que parecem vir de um contexto fantástico. Há também muita metáfora, como a de uma memória de viagem estrangeira, atravessando águas (2).

Em Retrato imaginário de uma noiva (3), representa-se uma mulher grande vestida para casar, ocupando grande parte da tela, transportando o que parece ser o noivo num pequeno cesto, como se fosse um acessório.

3. Yudy Márquez. Retrato imaginário de uma noiva.

O nascimento de um peixe roxo serpentino a partir do rebento de um bule de chá (1) apresenta uma figura humana que está debaixo de água a segurar um bule de chá, que por sua vez parece dar à luz um pequeno peixe.

Na obra de Belkis Granada também vemos a intenção de retratar Tabay con su jaguar (4), mas não com perspectivas realistas ou paleta de cores, antes querendo que entremos pela sensibilidade e intuição para explorar aquele ambiente único de selva e selvagem. Tem uma atmosfera muito colorida e atractiva, contrastante, volumétrica, com elementos decorativos indígenas.

4. Belkis Granada. Tabay con su jaguar.

Nas obras de Manuel Brito (5) há sempre um diálogo entre uma paisagem natural ao fundo – mar, montanhas – e uma cena em primeiro plano com figuras muito sintéticas, geométricas e sóbrias, como se tivessem sido extraídas de outro universo, mais abstrato e minimalista.

Alguns estudiosos e investigadores assinalam que, como género literário e pictórico, foi a forma catártica que os autores e artistas latino-americanos do século passado encontraram para enfrentar o sofrimento das ditaduras que governavam os seus países. Eles queriam criticar, expressar suas emoções e pensamentos, e através da ficção puderam burlar a censura e metaforizar a dura realidade em que viviam.

É interessante e crucial compreender que o Realismo Mágico teve lugar no início do século passado e se desenvolve e estende até aos dias de hoje no contexto latino-americano, porque tem uma história intensa, complexa, particular e longa de justaposição cultural, miscigenação e heterogeneidade. Como resultado desta história, o simbólico e o técnico confrontam-se, cruzam-se, alimentam-se e dialogam constantemente. Só neste sincretismo de culturas e de estruturas de pensamento é possível o sincretismo do mágico e do real.

5. Manuel Brito. Infantino con mar

Arte Original. Galeria de arte.